10/09/2024 - Para recuperar o volume de madeira extraído em um ciclo de corte na floresta pode levar cerca de 45 anos.
A constatação é de um estudo da Embrapa, que avaliou a dinâmica de regeneração florestal em áreas de manejo do interior do Amazonas, durante duas décadas.
Esse período de tempo está relacionado à ocorrência de secas sucessivas e consequente mortalidade das árvores, que atrasaram em 20 anos o processo de recomposição da madeira extraída da floresta, previsto para 25 anos.
Os resultados estão publicados em artigo na revista científica Forest Ecology and Management.
Para conhecer os impactos da exploração madeireira na regeneração da floresta e a evolução desse processo, os pesquisadores monitoraram uma área de 600 hectares, da fazenda Iracema, localizada no município de Lábrea (AM), entre os anos 2000 e 2022.
Dividida em parcelas permanentes, a floresta foi medida antes e logo após o corte, procedimento que se repetiu outras sete vezes, em diferentes momentos da pesquisa, em campo e com auxílio de geotecnologias (drones com sensores remotos).
Foram avaliados diferentes indicadores de desenvolvimento, como a biomassa acima do solo (madeira), ingresso de novas árvores, índice de crescimento de árvores residuais e taxa de mortalidade de plantas.
Segundo o pesquisador da Embrapa Acre Marcus Vinício Neves d´Oliveira coordenador do estudo, as primeiras avaliações mostraram alta taxa anual de mortalidade de árvores (em torno de 5%), logo após o corte, e alto crescimento das árvores.
Ele explica que nas florestas recém-exploradas esse índice de mortalidade é esperado, mesmo quando o manejo é de baixa intensidade, como é o caso da área estudada, mas diminui gradativamente.
O corte e a retirada de madeira abrem espaços na floresta, o que reduz a competição entre as plantas por luz, água e nutrientes, favorecendo o desenvolvimento de árvores remanescentes e novas, fatores cruciais para a regeneração florestal.
“Nossa expectativa era que, após esse primeiro momento, a floresta começasse a crescer de forma efetiva e se recuperasse plenamente em 20 a 25 anos, tempo considerado suficiente para a recomposição integral de áreas manejadas na Amazônia, onde sejam aplicadas técnicas de baixo impacto. Mas o volume de madeira comercial cresceu de forma muito lenta”, afirma o especialista.
As pesquisas sobre a regeneração da floresta gerenciada contam com a parceria do Fundo JBS pela Amazônia, entidade que financia, entre outras iniciativas, projetos para a recuperação de áreas degradadas e geração de valor para a floresta em pé, e do CIRAD, organização francesa de pesquisa agronômica e cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável de regiões tropicais e mediterrâneas.
A pesquisa aponta que, apenas oito anos após o corte e retirada das árvores, a floresta começou a dar respostas compatíveis com os cálculos de recuperação esperados.
Houve redução significativa na mortalidade de árvores e aumento no ingresso de novas plantas e no crescimento de árvores residuais.
Segundo o pesquisador, em princípio, esse atraso foi associado ao processo de exploração florestal, mas, 16 anos após o corte, a taxa de mortalidade de árvores subiu para 4% ao ano, fato considerado incomum para um período pós-manejo tão longo.
“Passamos a avaliar outros fatores que poderiam influenciar a dinâmica florestal e percebemos que eventos climáticos causaram o crescimento da floresta mais lento, uma vez que o ganho pelo crescimento e novos ingressos de árvores foram perdidos, em boa parte, pela mortalidade. Esse fator está diretamente relacionado a secas prolongadas na região, causadas como efeito do El Niño, evento climático que reduz o período de chuvas e aumenta a estiagem”, afirma.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram uma série histórica com registros de previsões meteorológicas atípicas na Amazônia nos últimos 40 anos, que mostraram efeitos mais severos do El Niño em 2005, 2010/2011, 2015/2016 e 2018, anos em que as taxas de mortalidade de árvores na área cultivada foram maiores.
Os resultados das avaliações corroboram apontamentos de estudos anteriores, realizados nas florestas do Acre e em outras florestas tropicais, que evidenciaram a mortalidade de árvores associadas a eventos climáticos.
Os estudos sobre dinâmica florestal são feitos no Acre há mais de 30 anos e na Amazônia como um todo há cerca de 50 anos, mas é consenso da pesquisa que esse tempo é relativamente curto para se conhecer eficazmente o comportamento da floresta.
De acordo com Evaldo Muñoz , pesquisador da Embrapa Florestas (PR), participante desse estudo, como a pesquisa é contínua, os dados gerados servem de base para novas análises sobre a dinâmica da floresta.
“A recorrência de efeitos climáticos atípicos vai exigir novos estudos para ampliar o conhecimento sobre como a floresta funciona a longo prazo. É necessário investigar outros efeitos desses eventos na regeneração de áreas manejadas, como possíveis mudanças na sua estrutura florística e quais espécies comerciais são mais afetadas”, considera Muñoz.
As informações geradas pelo estudo serão compostas por um banco de dados, em fase de construção, que será disponibilizada para instituições de pesquisa, profissionais da área florestal e outros públicos de interesse, por meio do Repositório de Dados de Pesquisa da Embrapa (Redape). À medida que novas pesquisas foram publicadas, também integrarão essa base de dados.
Fonte: Forest News
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