Queda nos preços da celulose pressiona indústria em meio a incertezas comerciais entre EUA e China
- Sinpapel
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Mercado desacelera após tarifaço de Trump, e preço da celulose de fibra curta na China recua mais de 20% desde abril; setor aposta em recuperação até o fim do ano.
03/06/2025 - O aumento das tarifas promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe instabilidade ao mercado global e impactou diretamente a demanda por celulose, sobretudo nos EUA e na China. O cenário resultou na interrupção do ciclo de alta dos preços da matéria-prima que vinha sendo observado desde o início do ano.
Segundo o índice Foex, da Fastmarkets, o preço líquido da celulose de fibra curta na China caiu US$ 77,9 no último mês, sendo cotado a US$ 517,47 por tonelada na última semana. Fontes de mercado relatam negociações abaixo de US$ 500 a tonelada na revenda, ainda não refletidas nos índices oficiais. Se confirmados, esses valores representarão uma queda de mais de 20% em relação ao pico de abril, uma redução de cerca de US$ 120 por tonelada.
A Suzano, maior produtora global de celulose de fibra curta, vinha aplicando aumentos mensais de US$ 20 para o mercado asiático desde janeiro, aproveitando um início de ano mais positivo. Os reajustes de janeiro a março foram implementados, mas a empresa enfrentou dificuldades para manter o ritmo em abril.
A instabilidade interrompeu os repasses e anulou os ganhos obtidos no primeiro trimestre. O patamar atual é “insustentável”, conforme disse Leonardo Grimaldi, vice-presidente executivo de comercial e logística de celulose da Suzano, durante teleconferência. Ele afirmou esperar uma normalização das negociações em maio.
Apesar disso, projeções da Fastmarkets indicam preços mais fracos nos próximos meses, com possível recuperação apenas no fim do ano. “Se a demanda global por celulose, especialmente na China, continuar crescendo, isso pode sustentar uma recuperação dos preços ao final deste ano”, afirmou Rafael Barisauskas, economista para a América Latina da consultoria.
Além das tarifas, outros fatores contribuem para o cenário desafiador. Desde o ano passado, a dinâmica de oferta e demanda tem sido afetada pela retomada de operações de produtores chineses e pela entrada de novas capacidades, como o Projeto Cerrado, da própria Suzano. A nova unidade começou 2025 operando com capacidade máxima de 2,55 milhões de toneladas por ano, adiantando as projeções da companhia.
“As incertezas sobre a demanda na Ásia e nos EUA têm feito com que compradores adotem estratégias de compra ‘da mão para a boca’, evitando a construção de estoques por toda a cadeia, o que tem freado o consumo de celulose”, afirma Barisauskas.
Dados de abril da Pulp and Paper Products Council (PPPC), compilados pelo BTG Pactual, indicam aumento nos dias de estoque para 44 dias (47 dias para fibra curta e 41 para fibra longa) e uma taxa de operação de 80%, considerada “ociosa” pelo banco.
Mesmo em um ambiente de pressão, os embarques totais cresceram 2% em comparação ao ano anterior, impulsionados pela China, com alta de 15%. Já na América Latina, houve queda de 9%.
Após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, o presidente da Suzano, Beto Abreu, afirmou que a companhia ainda não sentiu mudanças na demanda, mas reconheceu que há cautela com a dinâmica do mercado nos próximos meses.
Em conversa com jornalistas em maio, o vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores da Suzano, Marcos Assumpção, foi questionado sobre possíveis cortes na produção. Segundo ele, a empresa tem monitorado operações com custo mais elevado, mas não pretende reduzir volumes. “O que temos falado é que vamos vender tudo o que a gente produzir”, afirmou.
Outro ponto de atenção é a possibilidade de redirecionamento das exportações chinesas para mercados fora dos EUA. “A China deve apresentar alguma dificuldade de exportação de celulose de fibra curta para os EUA. A grande pergunta é se o mercado chinês vai consumir ou se isso vai ser exportado para outros países”, declarou Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin, em teleconferência. Para a empresa, a perspectiva de demanda no segmento é negativa.
No caso da celulose de fibra longa, Teixeira vê uma situação mais favorável, já que a maior parte das importações da China vêm dos Estados Unidos. “Qualquer fabricante de fibra longa no mundo acaba surgindo como uma alternativa para os produtores chineses, e o Brasil pode ser um dos beneficiados”, disse.
Apesar do cenário adverso, o embaixador José Carlos da Fonseca, presidente da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel) e diretor de relações internacionais da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), avalia que ainda é cedo para determinar se as pressões atuais apontam para uma tendência duradoura.
Neste mês, EUA e China acordaram em reduzir as tarifas recíprocas de 125% para 10% por 90 dias, durante o avanço das negociações. “Hoje estamos no auge desse ciclo, mas o mundo não será igual, mesmo que isso passe”, afirmou da Fonseca.
Fonte: Portal Celulose