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Indústrias papeleiras enfrentam desafios com elevação do preço da madeira

No Brasil, o valor médio do eucalipto em pé aumentou de R$ 40,20 por metro cúbico, em 2019, para R$ 115,40 neste ano. A instalação de novas fábricas de celulose e papel no Brasil tem fortalecido a disputa por madeira e terras no país, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Com uma demanda superior à oferta, os preços do eucalipto em pé – que precisa de seis a sete anos para estar pronto para a produção de celulose – subiram quase três vezes mais de 2019 até 2023, enquanto a produtividade média florestal no país se manteve estável.



19/09/2023 - A instalação de novas fábricas de celulose e papel no Brasil tem fortalecido a disputa por madeira e terras no país, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Com uma demanda superior à oferta, os preços do eucalipto em pé – que precisa de seis a sete anos para estar pronto para a produção de celulose – subiram quase três vezes mais de 2019 até 2023, enquanto a produtividade média florestal no país se manteve estável. No caso do pinus, os preços tiveram aumento de mais de 60% em um ano.


De acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), até 2028, o setor de base florestal terá investido cerca de R$ 61,9 bilhões, entre plantio de florestas, novas fábricas, modernização e logística. No setor, a leitura é que não há disponibilidade de madeira para novas fábricas de celulose, até 2027, devido ao longo ciclo das culturas de eucalipto e pinus.


Segundo a Arvor Business Advisory, do grupo Index, o preço médio do eucalipto em pé no Brasil aumentou de R$ 40,20 por metro cúbico – registrado em 2019 – para R$ 115,40 neste ano e a tendência é de que continue subindo.


Em termos de volumes, somente a Bracell teria comprado recentemente cerca de 3 milhões de toneladas de madeira em Minas Gerais para assegurar o suprimento de matéria-prima para sua fábrica de celulose em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, segundo o Valor Econômico.


Em nota, a Bracell confirmou a realização da compra de madeira de reflorestamento em MG, mas “em volume diferente do mencionado” – a companhia, que está construindo uma fábrica de tissue em Lençóis Paulista, não revelou o tamanho do contrato. O estoque de madeira é uma informação estratégica para indústrias do setor.


“A companhia esclarece que esse tipo de aquisição é insumo estratégico para o abastecimento do negócio no setor de celulose e está em linha ao forte investimento feito no desenvolvimento industrial e tecnológico de suas operações, sendo compatível com seu compromisso de contribuir para o desenvolvimento do mercado brasileiro”, acrescentou.


Antonio Joaquim de Oliveira, presidente do conselho deliberativo da Ibá

Foto: Julio Bittencourt / Valor


TECNOLOGIA A FAVOR DA PRODUTIVIDADE FLORESTAL

Já em Mato Grosso do Sul, região que possui uma concentração de produtores que geraram o nome “Vale da Celulose”, a Suzano está investindo R$ 22,2 bilhões em uma nova planta, que terá a maior linha única de celulose do mundo. A Arauco, por sua vez, instalará sua primeira fábrica de celulose no Brasil. A Paracel, que vai construir uma unidade fabril no Paraguai – a primeira do país –, também busca matéria-prima por lá. De acordo com fontes do setor, a disputa por terras e madeira na região tem seguido bastante acirrada.


Para especialistas na indústria de base florestal, elevar a produtividade das florestas cultivadas pode ser a melhor alternativa disponível. “Há oportunidades [de plantio ou compra de madeira] em regiões mais remotas, mas a solução mais viável é produzir mais onde já estão os ativos”, afirmou Marcelo Schmid, o sócio-diretor do grupo Index. “O preço da madeira ainda vai subir bastante, mais no caso do eucalipto do que do pinus”, avaliou o executivo.


Schmid ainda destacou que as metas de descarbonização assumidas por empresas de diferentes setores também contribuem para que haja maior concorrência pela celulose. Nesse ambiente, diz, o setor de base deveria elevar os investimentos para voltar a elevar o chamado IMA, que mede a produtividade das florestas. “Até por questões climáticas as empresas deveriam buscar novos clones”, afirmou.


Segundo Antonio Joaquim de Oliveira, presidente do conselho deliberativo da Ibá, “o setor construiu uma história de tecnologia e uso da terra, aliando competência técnica à condição favorável da natureza”, disse. Praticamente todos os grandes players globais possuem investimento no país, em busca dos níveis de produtividade “incomparáveis”.


O executivo lembrou que entre 1980 e 2000, houve uma revolução na produção nacional de florestas, graças aos avanços em melhoramento genético. Antes, na década de 70, incentivos fiscais já haviam dado forte impulso. “Esse salto de produtividade propiciou novos projetos”, contou. De 2010 para cá, a produtividade florestal no país estagnou.


De acordo com um levantamento da Ibá, entre 1960 e 2000, no caso do eucalipto, que representa 75% das áreas cultivadas de árvores, passou de 10 para 36 metros cúbicos por hectare por ano. Hoje, caiu a 33. “O problema da produtividade tem origens diversas. O alerta é que é preciso haver um trabalho conjunto, envolvendo universidades, institutos de pesquisa, técnicos e grandes empresas, que têm recursos a aportar”, disse Antonio. “O momento é de olhar o setor em conjunto, e dar um novo salto”, completou.


Atualmente, há cerca de 10 milhões de hectares de florestas plantadas no Brasil, informou o executivo, que é engenheiro florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). O impacto de um trabalho conjunto, em sua leitura, pode trazer ganhos de 10% a 20%. “Há questões de compliance, mas não adianta cada empresa olhar só para si”, afirmou. “Se não fizer nada, o setor continuará crescendo em área, mas não em produtividade. Dá para ser ainda mais eficiente no uso da terra”, concluiu.


Fonte: Tissue Online

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