
28/01/2025 - Os investimentos crescentes na indústria de celulose e papel aqueceram o mercado de compra e venda de ativos florestais no Brasil, movimentando cerca de R$ 15 bilhões nos últimos cinco anos. Especialistas projetam que essa tendência deve continuar, com transações futuras podendo ultrapassar R$ 10 bilhões, em um contexto de expansão de projetos e regulação do mercado de créditos de carbono sancionada em dezembro de 2024 pelo presidente Lula.
Entre 2020 e 2024, Bracell, Suzano, CMPC e Arauco negociaram 496.887 hectares de área no país, totalizando R$ 14,885 bilhões, conforme levantamento da ESG Tech. Essas transações, realizadas entre companhias ou com fundos de investimento florestal (TIMOs), envolveram principalmente plantios de pinus e eucalipto. “A preferência [das empresas] é ter uma floresta no padrão desejado, mas quando há escassez de madeira, elas não pensam duas vezes [em comprar]”, afirma Mario Coso, sócio da ESG Tech.
Uma das operações de destaque foi a venda de 60 mil hectares de florestas plantadas e 43 mil hectares de terras da Klabin para um TIMO, em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Avaliada em até R$ 2,7 bilhões, a negociação visa reduzir o endividamento da Klabin nos próximos meses. Parte dessas terras pertence ao projeto Caetê, adquirido pela Arauco por US$ 1,16 bilhão, envolvendo 150 mil hectares, dos quais 85 mil são plantios de pinus e eucalipto, além de 31,5 milhões de toneladas de madeira em pé.
Marcos Ivo, diretor financeiro da Klabin, destaca que a região Sul do país segue prioritária para a expansão florestal da empresa. “Na nossa análise, baseado em ciência, é onde existe o menor risco de mudanças climáticas”, explica. A Klabin também considera a possibilidade de uma nova planta de celulose fluff na região, com capacidade entre 650 e 850 mil toneladas anuais.
O desinvestimento também foi estratégico para a Arauco, que planeja investir US$ 4,6 bilhões em uma megafábrica de celulose de eucalipto no Mato Grosso do Sul até o fim da década. Quando concluída, a unidade produzirá 3,5 milhões de toneladas anuais de fibra de eucalipto. Da mesma forma, a CMPC anunciou, em abril, uma nova fábrica no Rio Grande do Sul, com capacidade para 2,5 milhões de toneladas por ano.
Outras empresas também têm apostado na expansão de áreas florestais. A Bracell investiu R$ 1 bilhão em 2020 para adquirir 21.066 hectares da Suzano, como parte do projeto Star, em Lençóis Paulista (SP), com capacidade de até 3 milhões de toneladas anuais de celulose kraft ou 1,5 milhão de celulose solúvel. Por sua vez, a Suzano inaugurou o Projeto Cerrado, em Ribas do Rio Pardo (MS), com capacidade de 2,55 milhões de toneladas anuais, a maior linha única do mundo.
Mario Coso avalia que novos projetos, com áreas florestais acima de 250 mil hectares, devem impulsionar transações futuras. “Por isso, não é absurdo estimar que transações de terras e florestas movimentem mais de R$ 10 bilhões ao longo dos próximos anos”, afirma.
Além da celulose, outros setores como siderurgia, energia e agricultura também impulsionam a demanda por madeira. Um exemplo é a indústria de etanol de milho, que utiliza biomassa de eucalipto em seu processo produtivo. A produção de etanol de milho no Brasil cresceu 800% entre 2017 e 2023, segundo a CNI, e deve dobrar até 2031, demandando mais biomassa.
Outro fator de impacto é o mercado de créditos de carbono, regulamentado em 2024, que coloca o Brasil em posição de destaque global. Gerrity Lansing e Mark Wishnie, do BTG Pactual TIG, destacam a atratividade da região para investidores devido ao alto crescimento biológico das florestas e aos benefícios climáticos e sociais associados. Segundo eles, fundos de pensão, companhias de seguros e outras instituições financeiras são os principais interessados nesse mercado.
Fonte: Portal Celulose
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