Avaliação predominante entre integrantes é de que a continuidade da queda da inflação pode resultar em redução na próxima reunião. O Copom sinalizou na ata de sua última reunião, divulgada ontem, que está inclinado a iniciar um ciclo de cortes na Selic, mantida em 13,75% ao ano. A avaliação predominante entre os membros do colegiado, responsável por fixar os juros básicos da economia, é de que a continuidade da queda da inflação e seu impacto sobre as expectativas podem possibilitar uma queda dos juros.
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou requerimentos convidando o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para explicar taxas de juros
SERGIO LIMA/AFP
29/06/2023 - O Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou na ata de sua última reunião, divulgada ontem, que está inclinado a iniciar um ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic), mantida em 13,75% ao ano. A avaliação predominante entre os membros do colegiado, responsável por fixar os juros básicos da economia, é de que a continuidade da queda da inflação e seu impacto sobre as expectativas podem possibilitar uma queda dos juros em sua próxima reunião, marcada para o inicio de agosto.
“A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão [corte de juros] na próxima reunião”, informou o Banco Central.
De acordo com o documento, uma parte do colegiado se mostrou mais cauteloso. Para esses membros, a dinâmica desinflacionária ainda reflete a desaceleração dos preços de componentes mais voláteis e que há dúvida sobre o impacto do aperto monetário em curso até o momento. “Para esse grupo, é necessário observar maior reancoragem das expectativas de longo prazo e acumular mais evidências de desinflação em componentes mais sensíveis a impactos sazonais”, destacou o comunicado.
A autoridade monetária afirmou que os membros do comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária. “Em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, avaliou.
O novo relatório Copom trouxe um elemento inesperado. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, considerado o principal adversário do núcleo econômico do governo Lula, parece ter se posicionado a favor de um indicativo de corte na taxa de juros em agosto, coincidindo com a visão do Palácio do Planalto.
A inferência é baseada em cálculos. No 19º parágrafo do relatório, destaca-se que a “visão predominante” do comitê é que a continuidade do processo de desinflação pode permitir um começo na queda dos juros na próxima reunião. Atualmente, o Copom é composto por oito diretores, e a maioria é formada com uma margem mínima de 5 a 3 votos.
Após a reunião do Copom, três diretores se posicionaram publicamente contra o corte de juros. Renato Dias Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, afirmou em entrevista que o Banco Central não deve ter pressa para cortar os juros, indicando um provável voto contrário. Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do BC, alegou que é preciso ter “paciência e serenidade” até o começo do processo de redução, sugerindo voto contrário também. Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais, afirmou, em entrevista, que “não é possível prever quando os juros vão cair”, o que seria o terceiro voto contrário.
A única maneira de formar a maioria no Copom, com base nesses dados, é com Roberto Campos Neto alinhando-se aos outros quatro diretores para formar o placar de 5 a 3, corroborando a chamada “avaliação predominante” do relatório.
SENADO A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou ontem quatro requerimentos convidando Roberto Campos Neto a explicar à comissão os motivos da manutenção da atual taxa básica de juros, a taxa Selic, em 13,75% ao ano. É a segunda vez, neste ano, que Campos Neto é convidado a falar sobre o assunto na Casa. Como é um convite, e não uma convocação, ele não tem obrigação de comparecer.
Dois dias após o Copom manter, pela sétima vez consecutiva, a atual Selic, o líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), protocolou pedido para ouvir o presidente do BC. “É inaceitável que Campos Neto continue sabotando o Brasil e o povo brasileiro com a mais alta taxa de juros reais do mundo. A quem interessa impedir o crescimento econômico do nosso país?”, questionou. Randolfe acrescentou que não descarta outras medidas contra Campos Neto.
Na segunda-feira, também apresentaram requerimentos para ouvir Campos Neto os senadores da oposição Plínio Valério (PSDB-AM), Rogério Marinho (PL-RN) e Ciro Nogueira (PP-PI). No pedido, Marinho, que é líder da oposição no Senado, argumentou que o Banco Central já esclareceu sobre os motivos da atual taxa básica de juros. “Mesmo com a recente elucidação da matéria pelo presidente Campos Neto, defendemos o debate da problemática, bem como esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários”, explicou.
Na semana passada, a senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA) chegou a pedir ao Conselho Monetário Nacional (CMN) a exoneração do presidente do BC “em razão do seu comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos da instituição”. Ontem, a ata do Copom indicou que os juros podem começar a cair a partir de agosto. Ao abrir a sessão da CAE, o presidente da comissão, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), comemorou a ata do Banco Central. “Esperamos então que as perspectivas positivas se concretizem e a Selic inicie o esperado processo de redução”, afirmou.
Fonte: jornal Estado de Minas
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